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Ausência das palavras

[Fotografia: "Muro de livros" - Hasaliah - Olhares.com]

Página em branco. Lápis preto na mão. Os desenhos surgem antes das palavras, e não é de hoje que os traços me encantam. Porém ultimamente a ausência delas - as palavras - têm me incomodado, quase como sapato apertado quando pressiona o calcanhar implorando por pés descalços. Sinto que lentamente tenho me afastado das letras, estas que sempre me conquistaram.
Os tantos livros encaixaram-se cuidadosamente na estante novinha em folha, em lugar de destaque, projetados especificamente para acomodá-los. Alguns ainda intactos, repousam nas caixas fechadas pela mudança e anseiam juntar-se aos demais. Outros possuem mais imagens do que vogais. São papéis recheados de desenhos, arquitetados um a um. Enquanto isso, as letras gritam ao longe para não serem esquecidas ali. É o desejo de habitar novamente a mesa de cabeceira, assim mais próximas às mãos e aos olhos atentos a cada página virada. Mesmo que por alguns dias ou meses, mas em posição de destaque. Além do privilégio da companhia, ter a oportunidade de me trasnportar para outros lugares, assim com uma leveza indiscutível.
Estes dias têm sido engolidos rotineiramente pelo relógio. Pelo ponteiro dos segundos e seu tic-tac intermitente. E o coração quer repouso, vôo distante e mente aberta. Deseja sonhos novos, aconchego e abraço amigo. Coisa simples que esta alma só encontra quando um livro aberto debruça calmamente sob estes olhos, a respirar o doce aroma das páginas. Reencontro necessário com dois verbos: ler e escrever.

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